Um livro para cada 18 dias da minha possível vida futura
Meu computador começou a dar sinais de cansaço ontem. Eu já
esperava, afinal, estou ciente da obsolescência programada. Então, enquanto
resolvo a questão, acionei outro equipamento aqui de casa e coloquei aquele, o
de uso diário, para fazer um backup. Instalaremos um HD SSD e ele deve dar mais
uns anos de caldo, ainda.
Não gosto de trocar meus aparelhos. Nenhum deles. Isso
inclui celulares e computadores. Penso nas questões ambientais, no lixo que
estou gerando, no trabalho que terei para transferir as coisas, no trabalho que
terei para aprender a usar o novo equipamento, e por aí vai. Preguiça, talvez.
Acontece que ontem, quando fui fazer o backup completo do
computador, descobri que, apenas na pasta dos meus documentos, tenho cerca de
30 mil arquivos. Foi um choque para mim. Como assim, 30 mil arquivos?
Desde que me mudei para a Mantiqueira, larguei a vida na
cidade e no ambiente corporativo, com seus muitos sapatos para dois pés apenas, venho numa vibe de reduzir a quantidade de coisas que tenho.
Acreditem em mim, nunca fui a pessoa mais consumista do
mundo, mas, ainda assim, tenho coisas demais. E estou me desfazendo delas desde
então. Meias e sapatos foram os primeiros.
Roupas em seguida. Isso foi fácil, mas não parei aí. Já vendi alguns
equipamentos que tinha e não usava, materiais
de artesanato zerados, que estavam aguardando eu ter tempo para fazer artesanato
(quem acumula coisas pra hobbie, gente???), doei coisas de cozinha, objetos de
decoração, traquitanas que trouxe de viagens e por aí vai.
Aí, ontem, quando descobri os tais 30 mil arquivos (sem
contar fotos e músicas), me liguei que mal comecei a engatinhar na arte do
desapego e da simplificação. Não usarei a palavra minimalismo, porque está
muito na moda, e tenho medo de palavras da moda. Mas, voltando à questão, que raios eu tenho nesses 30 mil arquivos?
Não sei e provavelmente nem saberei, porque não tenho tempo para checar tudo
isso e ver o que serve e o que não serve.
Acho que dá pra começar a entender o ponto, né? Continuo
tendo muitas coisas, só que são coisas virtuais. Tenho, por exemplo, uns mil
títulos no meu kindle, mas possivelmente lerei metade deles. E olhem que leio cerca de 1 livro por semana.
Muitos deles talvez nem me interessem! Baixei, com base no título, porque
estavam de graça em alguma livraria virtual. Não conheço os autores, ninguém me
indicou... Se eu viver mais 50 anos (na melhor das hipóteses), terei 18.250 dias de vida, ou seja, um livro
para cada 18 dias da minha vida, sem contar os que ainda me interessarão daqui
pra frente. É demais, né?
Bom, de tudo isso, ficou a reflexão do quanto somos moldados
e condicionados pelo capitalismo. Acumule, acumule, acumule. Nem que sejam
coisas virtuais. Acumule.
É disso que preciso me livrar. Não é sobre os objetos que
temos ou deixamos de ter, é sobre o hábito de ter muito mais do que o
necessário.
De onde vem esse hábito? Do medo de me faltar mais adiante?
Do medo de tudo se acabar? Suponho que também esse medo seja condicionado pela
mesma força que nos leva a acumular.
Quero não, gente. Quero carregar apenas o necessário. Preciso
aprender a fazer isso. Talvez esteja entrando na vereda certa, dessa vez.
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